quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Restart é rock de verdade

O Restart ganhou tudo no VMB 2010. Parabéns. Explicação: ganhou porque é rock de verdade. Rock é tudo aquilo que um jovem ama e seus pais desprezam. Pode ser um corte de cabelo, um tipo de roupa, um grupo de amigos, até música, e preferencialmente tudo junto.

Rock é rebelião adolescente. Arte, poesia, sucesso, “tocar bem” etc. são outros papos, e irrelevantes. Esses dias um camarada me cumprimentou por explicar neste blog por que essas bandas tipo Restart, Cine etc. são o verdadeiro rock de 2010, e não os alternativos que tocam em festivais, muito menos os tiozinhos dos anos 80.

Horas depois, duas colegas de trabalho na casa dos vinte e poucos me contavam de shows que viram dos Titãs, Paralamas, um tributo a Legião Urbana. Fiz cara de comigo não, violão.

Mas Forasta, você não gosta disso? Daquilo? Daquele outro? Hmm, não. Me rendo ao Capital Inicial, a única banda de sua geração ainda relevante, e falando com jovens, não sessão nostalgia para quarentões.

E disse isso para o Dinho um ano e tanto atrás. Mas não ouço Capital, não é e nunca foi para mim. A amiga me contou que viu um show dos Paralamas terrivelmente desanimado, o público sentado em mesas.

Eu, que me lembro dos Paralamas quando eram pra pular, achei estranhíssimo. Horas depois, na mesa de bar, a piada politicamente incorreta: só porque o Herbert não pode mais levantar, todo mundo tem que assistir o show sentado?

Hei, vibrei com Cabeça Dinossauro, e Camisa de Vênus, e Selvagem!,e, vá lá, me dá um apertinho no coração se esbarro com “Índios” na rádio. Os roqueiros mais velhos, irmãos dos meus amigos achavam tudo uma porcaria, porque mal tocado - bom era rock progressivo, Genesis, Yes etc.

Eram bandas formadas por pessoas ligeiramente mais velhas, só o suficiente para eu estar na plateia e eles no palco, e muitas vezes palquinhos minúsculos. Não são da minha geração - compartilham com jornalistas um tico mais velhos, alguns bons amigos meus. E isso explica muita coisa.

Os cinco anos que me separam da geração 80 do rock brasileiro, e da geração de jornalistas de cultura e/ou música equivalente, são uma vala intransponível. Esses caras passaram a adolescência, o colegial, nos anos 70, na ditadura militar.

Ser do contra era gostar do que seus pais, e os milicos, não gostavam - ser ripongo, de esquerda (mas não do PC; Libelu era a opção mais descolada; assunto para outro dia), tomar chá de cogumelo e, se interessados por música brasileira, idolatrar e emular Caetano e Gil, que na época não faziam sucesso.

Sério. Caetano e Gil eram artistas “alternativos” na segunda metade dos 70. Os anos de relevância da Tropicália iam longe. Os sucessos radiofônicos eram memória distante.

A chave só virou em 1979/1980, com o reempacotamento de Caetano e Gil, e também Rita Lee, Cor do Som etc. para as novas gerações.

Bem, em 1980 eu fiz 15 anos, e troquei Beatles e Pink Floyd e KC & The Sunshine Band por B-52's, Devo, Tom Petty, Clash etc., e nenhum artista brasileiro falava comigo, muito menos esses baianos cabeludos.

Nunca confie num hippie, era o slogan punk, e eu era só um molequinho piracicabano, mas comprei essa de coração. Música brasileira 1980-1985 era o que eu assistia no Cassino do Chacrinha e boa.

Claro que o rock dos anos 80 produziu boas canções e momentos de reverberação cultural. Mas nunca me pegaram pelas tripas. O que me facilitou muito a vida quando “militei” no jornalismo musical, Folha e Bizz e General, 1988-1995.

Eu não era da turma, e me sentia muito à vontade para caçoar das bandas, com a crueldade gratuita de quem não quer ser aceito. Em toda a geração 80 do rock e do jornalismo cultural se vê essa marca dos 70.

Nem Renato Russo você curte, perguntou minha colega de trabalho. Depois de Eduardo e Mônica e Faroeste Caboclo? Nem Cazuza e Lobão? Não.

Existe ótima música no Rio, mas não rock, porque no Rio não há ruptura - tudo é absorvido organicamente, cooptado e perfumado para divertir a corte.

Pensei por pouco tempo que talvez tivesse encontrado minha geração aos 25, 27 anos, com a chegada à cena dos Raimundos, Skank, Nação Zumbi etc. Durou pouco.

Depois que vi Gil em 1995, aliás em um VMB, arrotando que tinha descoberto o Mangue Beat, e Chico Science sorrindo ao lado, aquiescendo, baixando a cabeça...

Essa vala geracional intransponível que me separou do rock dos 80 existe também entre as teens doidas pelo Restart e minhas colegas de trabalho de vinte e poucos. Impossível o diálogo.

Apedrejar o Restart - ou Elvis, os Beatles, o RPM ou Luan Santana - pela paixão de suas fãs é inútil. O Restart é a rebelião adolescente do momento.

Se você não é mais adolescente, o problema é seu. Cinco anos me separam da geração rock 80. São irmãos mais velhos, com outro jeito de se rebelar, que me diz pouco, e que questiono automaticamente.

Não discuto talento, vendas, a letra melhor ou pior, a melodia; nem que eles tenham dito - e digam, muito a muitas pessoas.

Falo de viver e sentir. Meu coração vibra em três acordes

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