segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Vida E Cidadania



Moda que virou malícia

Pais são surpreendidos pela conotação sexual atribuída às pulseiras coloridas de silicone

O que era um mero adereço colorido para muitos jovens passou a ser visto como uma preocupação para pais e professores depois que a notícia sobre a pulseira do sexo veio à tona na semana passada. Antes, não havia qualquer conotação sexual, nem mesmo malícia, para quem comprava e usava o acessório como modismo. “Os pais não sabiam o significado que as pulseiras poderiam ter quando estavam comprando para seus filhos”, conta a orientadora educacional Margarete Cunico, do Colé gio Novo Ateneu.

Um jogo carregado de erotismo, que teria origem na Inglaterra, ganhou repercussão a partir de e-mails e outras ferramentas de comunicação na internet. De acordo com as regras, quem tem uma pulseira arrancada fica com uma dívida – que varia de um abraço até atos sexuais, de acordo com a cor do adereço. Entretanto, no Brasil, o acessório não era relacionado a esta prática. “Não via desta maneira aqui. Vejo como um boato. Na Europa até pode existir, mas aqui eu acho bobagem. Foi só uma modinha mesmo, assim como piercings, óculos coloridos e colarzinhos”, avalia a corretora Fernanda Azevedo, mãe de duas meninas que continuam a usar as pulseiras.

Contudo, a discussão se transformou em alerta para pais e professores. Escolas passaram a proibir o uso das pulseiras pelos alunos e os pais começaram a observar mais o comportamento dos filhos. “Não acho errado que proíbam o uso nas escolas. Tem de ser assim mesmo”, considera Fer nanda. “Não sabia do que se tratava. Tanta coisa que acontece que a gente não acompanha. Se é boato ou não, não sei até onde vai isso”, afirma a manicure Carla Apare cida Cam pos. A filha dela, de 9 anos, tomou a iniciativa de jogar as pulseiras no lixo.

O uso de uma pulseira ganhada em uma brincadeira de mau gosto causou constrangimento para um adolescente de 15 anos, depois que sua família associou a cor do acessório com a mensagem do jogo. “Não é uma questão de contestar a orientação sexual. A humanidade acabou transformando as pessoas em ‘coisas’ que devem ser ‘consumidas’”, lamenta a assistente so cial Valéria Lopes dos Santos.

As pulseiras ainda são vistas como um sinal de amizade. Três jovens, todos com 14 anos, compraram o acessório em conjunto, há cerca de um mês, como símbolo de união. “Não existe malícia alguma e continuamos usando. É uma bobagem o que dizem. Não existe nenhuma regra”, conta um deles. Duas irmãs, de 14 e 10 anos, compraram as pulseiras coloridas há duas semanas por serem um adereço da moda. Quando souberam do significado que poderiam ter, tomaram atitudes diferentes. “Fiquei com medo e dei as minhas para minha irmã”, conta a caçula. “Acho que é besteira. Está na moda, todo mundo usa. Troco [pulseiras] com minhas amigas”, diz a mais velha.

De acordo com os comerciantes, a venda das pulseiras não é associada a qualquer ritual. Já foram sucesso há cerca de cinco anos e, agora, a moda voltou. “O pessoal procura a pulseira como algo normal, assim como os outros acessórios”, diz o comerciante Jorge Garcia. Já Sheila Pedrotti re clama da queda nas vendas depois da polêmica. “Caiu bruscamente. Antes vendia uns 150 conjuntos por dia. Agora, no máximo 20”.

Diálogo

Lições da pulseirinha

Na opinião da psicóloga Lélia Cristina Bueno de Melo, o que está por trás da discussão sobre o uso das pulseiras do sexo é uma sociedade doente, que precisa resgatar a intimidade com a família e a recuperação de valores. A ideia do jogo, lembra ela, abriu diálogo para um assunto que não é próprio para crianças pequenas. Segundo Lélia, a sexualidade tem de ser discutida em casa, com a família, mantendo a proteção da intimidade. “As pulseiras poderiam ter tido um significado lúdico. Mas acabaram gerando um resultado perverso”, diz.

No Colégio Novo Ateneu, o episódio não gerou tanta polêmica. A direção pediu aos pais para que os alunos fossem orientados a não usar a pulseira na escola. “O diálogo é a base de tudo. Se a escola proibir pode gerar muito mais curiosidade e interesse”, diz a orientadora educacional Margarete Cunico.

Em contrapartida, o Colégio Positivo preocupa-se com os problemas que podem ser causados com o uso do adereço na rua. Conforme o diretor-geral Carlos Dorlass, a pulseira pode significar que a pessoa está disponível e isso gerar algum constrangimento. “As escolas precisam pensar em uma sociedade melhor, produzindo pessoas mais responsáveis”, comenta. (AP)


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