segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Vaidade é cada vez mais precoce nas crianças.

Elas ainda são crianças pequenas, mas já se preocupam com a aparência que nem gente grande.Uma especialista explica como lidar com o exesso de vaidade dessas meninas.

- Cada vez mais cedo, as crianças possuem aparência de adultos com roupas mais arrojadas, sapatos de saltos, cosméticos, marcas e, principalmente, acessórios. De que maneira essa antecipação de "mini-adultos" prejudica na fase infantil e adulta da criança?

Historicamente, percebe-se que a criança foi vista como adultos em miniaturas. Se examinarmos obras de arte antigas com retratos de crianças, veremos que elas eram vestidas como os adultos. Então, o hábito de vestir as crianças à semelhança dos adultos não é recente. Hoje em dia, no entanto, temos muito mais opções de roupas e acessórios com temas infantis, roupas coloridas, divertidas e com mais apelos de marketing, como aquelas que vêm com um brinde, ou aquelas de um personagem famoso da televisão ou dos quadrinhos. O que atualmente acontece muito é que a cultura da beleza e da estética exerce forte influência, não só sobre o consumismo dos adultos, mas também no consumismo infantil. Essa cultura da beleza está também associada a uma idéia de que é importante ter determinados produtos e se vestir de uma determinada maneira, para ser bem aceito em um grupo social. O grande problema dessa influência cultural é que as crianças acabam deixando de aprender outros valores mais importantes, como, por exemplo, o respeito às diferenças. Vale também ressaltar que muitas das roupas e acessórios "da moda" podem não ser adequados para as brincadeiras típicas da infância. Sapatos de salto alto, por exemplo, são incompatíveis com brincadeiras de pular e correr, que por sua vez são naturais para as crianças, além dos prejuízos para o desenvolvimento físico da criança. O uso exagerado de maquiagens pode prejudicar a pele da criança e o uso de alguns acessórios (pulseiras, colares e anéis) pode causar acidentes quando se prendem a outros materiais. Portanto, pode-se dizer que é necessária cautela por parte dos adultos na hora de escolher as roupas e acessórios que seus filhos usarão, pois por trás do gesto de comprá-los e de incentivá-los a usar esses produtos estão implícitos alguns valores que serão transmitidos para as crianças.

-Por que elas se comportam como adultos?

As crianças que se comportam como adultos o fazem porque os adultos acham graça. Estamos acostumados a assistir na TV a meninas com saias bem curtas e saltos altos, rebolando como as dançarinas de axé ou de pagode, e achamos uma gracinha, até incentivamos! Achamos muito bonitinho o menino usando terno e gravata, mesmo que ele esteja suando embaixo de toda aquela roupa! O que é preciso dizer é que, quando incentivamos as crianças a se vestirem como adultos e a se comportarem como adultos, estamos retirando delas a chance de se comportarem como crianças e de aproveitarem todos os benefícios da liberdade, da menor censura sobre seus atos, da aprendizagem, da fantasia... Não é sempre prejudicial que a criança se vista como adulto ou brinque de imitar os comportamentos do adulto, isso faz parte do universo infantil e é por meio dessas brincadeiras que a criança vai aprendendo sobre papéis sociais e outros aspectos importantes da vida em sociedade. O que é nocivo é privar a criança de seu mundo natural, que é constituído principalmente pela brincadeira e pela fantasia.

-Quem são os responsáveis por essa "vaidade precoce" das crianças?

Não podemos apontar um responsável. Em uma visão ampla, nota-se que a mídia exerce grande influência sobre as atitudes das crianças e também de seus pais. No entanto, os pais podem e devem sempre examinar que valores querem ensinar para seus filhos e se o que a mídia ou a cultura em geral apresentam está de acordo com as crenças e valores da família. A vaidade, no sentido de cuidado consigo mesmo, não é algo ruim que deva ser evitado. Pelo contrário, as crianças devem ser ensinadas desde cedo a cuidarem de si mesmas, a se apresentarem bonitas, cheirosas, arrumadas. Acreditamos que a forma como nos vestimos e nos apresentamos aos outros diz muito sobre a nossa personalidade. Assim, não devemos extinguir a vaidade das crianças, mas precisamos estar atentos para identificar quando essa vaidade passa a prejudicar as oportunidades de aprendizagem e de vivências infantis.

-Ao se transformarem mais rápido em "adultos" essas crianças deixam de viver determinadas experiências que podem fazer falta no futuro?

As experiências infantis relacionadas a brincadeiras e a fantasias são estruturantes e organizadoras da personalidade. Portanto, a criança que é privada fortemente dessas experiências pode sim apresentar problemas psicológicos no futuro.

-O que os adultos que têm filhos pequenos devem fazer para evitar passar essa "vaidade precoce" para as crianças?

Como já foi colocado antes, os pais devem estar atentos aos seus próprios valores e ao que querem ensinar para as crianças. Não é errado ensinar que é socialmente adequado apresentar-se arrumado, bonito, cheiroso e bem vestido. Mas há ocasiões em que é mais adequado usar uma roupa mais velha e um chinelo, sem que isso torne a pessoa menos importante, menos adequada ou menos amada. O importante é evitar os excessos.

-Mesmo que os pais tomem cuidado em não antecipar algumas fases da vida da criança, na escola, na rua e, em diversos lugares, as crianças têm contato com outras pessoas e informações. Como equilibrar o que a criança aprende fora de casa?

A família é um núcleo estruturante muito importante para a criança. Apesar das influências de outros ambientes, o que acontece em família tem uma relevância maior sobre a criança do que o que ocorre fora desse contexto. Por isso, o mais importante para equilibrar a influência familiar com a influência externa é haver consistência, segurança e harmonia em família. Assim, desenvolve-se a confiança da criança nos valores que são ensinados por seus pais e isso pode fazer com que ela seja menos influenciada por valores distintos.

-Os produtos criados para o público infantil são uma saída ou também devem ser consumidos com moderação?

Existem muitos produtos destinados ao público infantil que respeitam as características típicas da infância e esses devem ser preferidos pelos pais. Porém, assim como para qualquer outra forma de consumo, a moderação é sempre indicada.

-Os pais conseguem identificar quando a vaidade das crianças está passando dos limites?

Às vezes conseguem, às vezes não... Algumas vezes a vaidade é mais dos próprios pais do que da criança. Nesses casos, cabe frequentemente aos familiares e amigos sinalizarem que algum problema pode estar acontecendo.

-Com preocupações de gente grande, agenda de adulto contendo aulas de diversos tipos, cursos etc., as crianças também começam a ser cobradas mais cedo?

Existem famílias em que as crianças recebem muitas cobranças quanto ao seu desempenho, o que gera um elevado nível de estresse e de ansiedade. Mas isso pode acontecer quer a criança esteja envolvida com muitas ou com poucas atividades. Esse é o tipo de pergunta que só tem uma resposta: depende... Cada criança tem o seu jeito de lidar com suas obrigações. Os pais devem observar e ouvir a criança, para perceber se a rotina está demasiadamente pesada ou se a criança está entediada. Não existe uma fórmula que se aplique a todas as famílias.

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